Caros amigos,
Eu digo caros amigos porque, de fato, todos vocês já
eram, ou porque no decorrer de nossa caminhada, tornaram-se grandes amigos para
mim.
São 3h40min, é madrugada, e ainda estou acordado. E
a culpa da minha insônia de hoje são vocês. “Não uma culpa dolosa, mas uma
culpa culposa.”
Assim sendo, tomo a liberdade de dividir com vocês
esse momento de reflexão.
Osvaldo Coelho dizia sempre: Política, o quanto
pode!
E, de fato, a política, arte inigualável de se lidar
com gente, é realmente como o tempo: muda sem avisar. O que parecia sol, vira
chuva e o frio, de repente, vira calor.
E, assim, é a política. Hora dia, hora noite. Hora
claro, hora escuro.
Todos vocês, sem exceção, ocuparam posições de
destaque em nosso governo. Vemos isso pela avaliação da capacidade de
desempenhar as funções que lhes atribuímos, tudo com maestria e firmeza.
Para minha sorte, acertei mais, que errei, nas
escolhas. E todos vocês foram brilhantes, cada um ao seu modo e ao seu tempo.
Por outro lado, tenho plena consciência de que, a
nenhum de vocês, eu prometi ou quis demostrar sinais de uma possível
candidatura. Se assim você interpretou, peço desculpas, mas essa não era a
minha intenção.
As minhas escolhas sempre se deram com o olhar muito
mais técnico que político. Meu desejo sempre foi o de entregar à população o
melhor produto possível: um melhor serviço público. E assim o fizemos. Os
números do nosso governo refletem isso.
Nunca tivemos um candidato natural à sucessão. Isso
ocorre, apenas, em duas ocasiões.
Uma, quando um governo é tão ruim e mal avaliado,
que ninguém quer sucedê-lo. A disputa se torna um sacrifício. E eu já vi isso
em nossa cidade.
Ou, no nosso caso, quando um governo é exitoso e,
consequentemente, grande parte de seus quadros pode ser alçado à condição de
candidato.
Contudo, nesse caso, surge um outro grande problema:
temos muitos e apenas um pode ser candidato a Prefeito.
Aqueles testes que fiz com vocês, um de auto
avaliação e outro de avaliação pelos colegas, mostram com muita clareza –
revejam as avaliações –, a enorme dificuldade que temos de avaliar a nós
mesmos.
A nossa visão do que somos, na grande maioria das
vezes, está longe daquilo que realmente somos para a coletividade.
Todos vocês, ou a grande maioria, vestiram a roupa
de pré-candidatos. E esse foi o nosso desejo ao fazer o convite para tal.
Todos vocês, com exceções, porém, tomaram a cachaça
da política. E como todo aquele que bebe, estão embriagados, e é exatamente aí
onde mora o perigo.
Cada um, sente-se e acredita, piamente, que é o
melhor candidato. Sente-se e acredita, piamente, que é o mais merecedor.
Sente-se e acredita, piamente, que, em um dado momento, eu sinalizei que você
seria o candidato.
Nosso sinal verdadeiro sempre foi que um de vocês
poderia ser candidato.
Leiam com atenção os tempos verbais.
Hoje, esse é o motivo da minha insônia.
Infelizmente, a sua embriaguez pode produzir uma
ressaca danosa à nossa relação.
Preocupa-me mais a relação pessoal que a
política.
A política passa e as perdas daqui, recompomos ali.
As relações pessoais nem sempre.
Ganhei muitos amigos. Mas, por outro lado, perdi
alguns amigos queridos por conta da política. Não gostaria que acontecesse com
um ou alguns de vocês.
Sei que, após a desincompatibilização, todos vocês,
cada um ao seu modo, fizeram seus movimentos.
As pessoas do seu entorno, e acreditem, somente as
pessoas do seu entorno, tratam vocês como candidatos. É isso mesmo.
E, acreditem, muitas delas fazem isso com mais de um
de vocês, porque para muitas pessoas, faz parte do jogo cativar o ego e a
vaidade do futuro prefeito.
Mais uma vez, eu reafirmo: a nenhum de vocês foi
ofertada a candidatura. A todos, sem exceção, foi oferecida a oportunidade de
participar da discussão.
Quais os critérios serão usados na escolha?
Critérios objetivos e subjetivos, posso afirmar.
Temos feito observações. De comportamento, de
treinamento, a exemplo do período vivido com Aldo Vilela. De pesquisas
qualitativas e quantitativas. Do ambiente externo e do clima político. E esse é
o mais perigoso, pois avaliamos uma tendência, já que não temos ao alcance de
nossas mãos, o instrumento da adivinhação da temperatura política no período
eleitoral. No máximo, observamos uma tendência.
Assim sendo, quero pedir, e até orientar, a cada um
de vocês que, neste momento e nos próximos quinze a vinte dias, parem de beber
da cachaça da política. Ou seja. Viajem, procurem ler um bom livro, fujam dos
“amigos” que já o chamam de prefeito (esses são os mais perigosos, alguns sem
intenção, outros por puro prazer da brincadeira).
Ninguém deve colocar a faixa ou usar o nome daquilo
que ainda não é.
Na melhor das hipóteses é permitido chamar alguém do
que já foi. Jamais do que pretende ser.
Procurem agir e vestir a roupa do não candidato. Até
porque, dos seis a quem me dirijo, só um “poderá” estar na chapa majoritária.
Então, vamos a um choque de realidade. Se nós temos
seis para uma vaga, a verdade é que sua chance de não ser é muito maior do que
a de ser.
Matematicamente, a chance de não ser é de 83,3%.
Assim sendo, cuidado com a vaidade que mora em cada
um de nós.
Sei que, para alguns, a possibilidade de ser é de no
mínimo 83% e, na verdade, essa é a possibilidade real de não ser.
Acreditem, nenhum movimento que façam nos próximos
dias ajudará em absolutamente nada. Na verdade, pode até atrapalhar. A chance
de cair enquanto corremos é muito maior que a de cair enquanto estamos
deitados. Portanto, é hora de deitar.
Toda avaliação qualitativa e/ou quantitativa busca
achar um perfil daquilo que, no momento eleitoral, o povo gostaria de ter.
Isso reflete a ação de cada de vocês nos últimos
sete anos. E até durante toda vida.
Digo até que todos os últimos movimentos
políticos foram válidos como experiência pessoal. Contudo, de nada ajudam na
escolha.
Uma fala, uma marca, uma foto produzida, um vídeo,
um conceito, entre tantas outras ações. Tudo isso tem importância. Mas, nesse
momento, pouca ou nenhuma importância. Não atrapalha, mas também não ajuda.
Tudo será produzido e afinado após a escolha. Os
vídeos, as gravações que pedi para fazer com vocês, em um ou outro momento, não
tinham a intenção de projetar o candidato. A intenção era avaliar
qualitativamente o seu desempenho.
Nossa pesquisadora chega a usar técnicas de
neurociência, a exemplo, a de arrancar do entrevistado a avaliação que faz no
seu subconsciente da imagem que vê.
Assim, ao meu ver, é hora de deitar e relaxar.
E, agora, preparar-se mais para não ser, do que para
ser. Preparar-se mais para participar e ajudar o seu colega que será escolhido,
do que para ser ajudado.
Somos um time e todos nós que não estivermos na
disputa direta certamente teremos outras missões em outras tantas jornadas.
Espero que o escolhido possa somar forças. E os não
escolhidos possam junto a mim que também não estarei na disputa atuar como
soldados da causa.
Como em um vestibular, estudar de véspera atrapalha
mais que ajuda.
E, agora, eu acho que dormirei bem, pois penso ter
sido muito claro e sincero.
Um beijo em todos. Bom descanso!
Júlio Lóssio – Prefeito
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