A impressão uniforme transmitida pelos evangelhos sinóticos é que a
crucificação aconteceu na sexta-feira da semana santa. Se não fosse João 19.14,
esse ponto jamais seria discutido. Mas esta passagem afirma: “E era a parasceve
[paraskeuë] pascal, cerca da hora sexta; e [Pilatos] disse aos judeus: Eis aqui
o vosso rei”. A NVI sugere um texto em que a dificuldade é menor, quanto à
aparente discrepância: “Era o dia da preparação da semana da páscoa, cerca da
hora sexta”. Essa última tradução observa duas questões muito importantes
quanto a costumes. Primeiro, a palavra paraskeuë já havia adquirido no século I
de nossa era a qualificação de termo técnico com o sentido de “sexta-feira”,
visto que era o dia de preparação para o sábado, isto é, o de descanso. No grego
moderno paraskeuê quer dizer “sexta-feira”.
Segunda observação: o termo grego tou pascha (lit., “da páscoa”) é
equivalente a semana da páscoa. E referência à festa dos pães asmos, de sete
dias (heb. massôt) que se seguia imediatamente à morte do cordeiro pascal, que
era comido a seguir, na noite do décimo quarto dia do mês de abibe. Pelo modo
de contar o tempo dos judeus, seria o início do décimo quinto dia, Logo após o
pôr-do-sol. A semana do massôt, vinda após a páscoa (na qual o massôt era
comido, com o cordeiro, ervas amargas, etc.) de modo natural tornou-se
conhecida como semana da páscoa (cf. Encylopaedia Britânica, 14a. ed.,
12:1041), estendendo-se de quinze a vinte de abibe, inclusive. (Arndt e
Gingrich [Greek-English lexicon, p. 638-9] declaram: “Esta [a páscoa] era
seguida imediatamente por urna festa, a dos pães asmos… no décimo quinto até o
vigésimo primeiro dia, O costume do povo produziu a união das duas festas, que
eram tratadas como uma só, para propósitos práticos”.) Era desnecessário
inserir um termo específico para ‘semana’ (como sâbûa’) para que isso fosse
entendido. Portanto, aquela expressão, que poderia ser traduzida literalmente
como “preparação da páscoa”, nesse contexto deve ser traduzida assim:
“sexta-feira da semana da páscoa”.
O resultado, portanto, é que João afirma com clareza, à semelhança dos
sinóticos, que Cristo foi crucificado na sexta-feira, e sua morte sacrifical
representava o cumprimento antitípico da própria páscoa, que havia sido
instituída por Deus, nos dias do êxodo, como meio de fazer com que o Calvário estivesse
disponível pela fé, aos israelitas, antes mesmo da vinda de Cristo.
Observemos que em l Coríntios 5.7, Paulo se refere a Jesus como o
cordeiro pascal dos cristãos: “Lançai fora o velho fermento, para que sejais
nova massa, como sois, de fato, sem fermento. Pois também Cristo, nosso
Cordeiro pascal, foi imolado”. A declaração de E. C. Hoskyns a respeito de João
19.14 é muito apropriada: “Está chegando a hora do duplo sacrifício. É meio
dia. O cordeiro pascal está sendo preparado para o sacrifício, e o Cordeiro de
Deus também já foi sentenciado à morte” (The fourth gospel [London,Farber and
Farber, 1940]). E necessário esclarecer que os cordeiros sob referência aqui
não são os que eram mortos e comidos nos lares dos israelitas, rito judaico que
Jesus e seus discípulos haviam observado na noite anterior (“no lava-pés da
quinta-feira”), mas os cordeiros que deveriam ser oferecido no altar do Senhor
em prol de toda a nação de Israel. (Quanto à observância doméstica, na noite do
décimo quarto dia de abibe, cf. Êxodo 12.6; quanto ao sacrifício público no
altar, cf Êxodo 12.16,17; Levítico 23.4-8; 2Crônicas 30. 15-19; 35.11-16. Esses
sacrifícios eram conhecidos como próprios da Páscoa, pois eram feitos durante a
semana pascal)
Portanto, chegamos à conclusão de que houve um mal entendido a respeito
da frase paraskeuë tou pascha que ocasionou essa perplexidade; até mesmo
Guthrie (New Bible commentary, p. 964) achou que era um erro para o qual não
havia solução. As várias explicações engenhosas que outros estudiosos
ofereceram, que Cristo celebrou sua Páscoa na véspera, sabendo que ele seria
crucificado antes da noite do décimo quarto dia; que Cristo e suas ações dizem
respeito a uma data diferente, segundo a qual o décimo quarto dia era um dia
antes do calendário oficial do sacerdócio judaico em Jerusalém; ou que o Senhor
estaria seguindo um outro qualquer, observado pelos essênios de Qumran —
nenhuma dessas teorias é provável, possível ou necessária. Não há contradição
entre João e os sinóticos quanto ao dia em que Cristo morreu — o
Senhor morreu
na sexta-feira.
O Dia da Ressurreição de Cristo
O texto bíblico de Marcos é muito claro quanto ao dia da ressurreição do
Senhor: “Ora, havendo Jesus ressurgido cedo no primeiro dia da semana…”, ou
seja, o Domingo é o dia da Ressurreição – isso é um fato.
Alguns contestam que Jesus não poderia ter morrido na sexta e
ressuscitado no domingo, sendo que o espaço de tempo não comportaria os três
dias completos. O Dr. Halley explica da seguinte maneira esse texto de Mt.
27:64: “No terceiro dia, v. 64, usa-se aqui como sendo idêntico a depois de
três dias, v. 63. Conforme o costume dos Judeus, parte de um dia, no começo e
no fim de um período, era contada como um dia, Et. 4:16; 5:1. Três dias e três
noites, Mt.12:40 (modo extenso de dizer três dias, I Sm. 30:12-13); depois de
três dias, Mc. 8:31; 10:34; Jo. 2:19; e no terceiro dia, Mt. 16:21; 17:23;
20:19; Lc. 9:22; 24:7,21,46; são frases que se usam uma pela outra para
significar o período de tempo que Jesus passou no sepulcro, desde a tarde da
sexta feira à manhã de Domingo”.
Quanto a aparente confusão de Lc. 23:56 e Mc. 16:1 (Quando as mulheres
compraram as especiarias – antes ou depois do sábado?) o Dr. Macnair acredita
que poderia ter havido dois grupos de mulheres que se incumbiram de preparar as
especiarias para o sepultamento de Cristo. Desse modo, subentendesse, que uma
equipe comprou as especiarias durante o dia de sexta-feira e a outra no início
do domingo. Isso pode ser aceito perfeitamente sem nenhum problema! Além disso,
Lc. 23:56 corrobora que Cristo foi crucificado no dia de sexta-feira, pois as
mulheres descansaram no shabatt e a véspera desse dia só pode ser a sexta.
Centro Apologético Cristão de Pesquisa
Centro Apologético Cristão de Pesquisa
Nenhum comentário:
Postar um comentário